segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Automutilação - importante pois temos casos na escola

Vídeos de automutilação que circulam na web podem estimular distúrbio

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Pulsos abertos e lâminas ensanguentadas surgem na tela, ao som de piano. Letras vermelhas gritam: "Antes de encostar pela primeira vez a gilete em sua pele, reflita".
Vídeos sobre automutilação como esse já foram vistos mais de 2 milhões de vezes no YouTube, segundo estudo publicado na "Pediatrics".
A pesquisa, feita por psicólogos das universidades de Guelph e McGill, no Canadá, analisou os cem vídeos do gênero mais vistos no site.
Arquivo pessoal
T. S., 45, exibe os cortes que tem no braço
T. S., 25, exibe os cortes que tem no braço
Para os autores, mesmo quando adotam um tom de autoajuda, essas imagens podem estimular o comportamento em jovens predispostos a ferir o próprio corpo.
Na automutilação, a pessoa, em geral um adolescente ou um adulto jovem, se fere para aliviar sintomas de angústia e depressão, mas sem o objetivo de se matar.
"Há uma alteração no nível de consciência, é como se eles se anestesiassem", explica o psiquiatra Álvaro Ancona de Faria, da Unifesp.
O comportamento é também um dos critérios para diagnosticar portadores de personalidade borderline, distúrbio caracterizado por alta impulsividade e dificuldades nas relações.
Jackeline Giusti, psiquiatra do ambulatório de transtornos do impulso do HC, concorda com os autores do estudo: os vídeos podem estimular a mutilação, independentemente da mensagem. "Só mostram pessoas tristes, não apontam saídas."
No estudo da "Pediatrics", 14 dos cem vídeos analisados mostravam jovens filmando a própria mutilação.
O transtorno não se confunde com "body-art" (que vai do piercing à suspensão por ganchos), explica Giusti. "No body-art há um desafio com preocupação estética, de se mostrar. Na automutilação a pessoa se fere para aliviar sentimentos ruins."
MARCAS ESCONDIDAS
"É como se o mundo fosse agressivo e a pessoa tivesse que devolver essa agressividade, se rasgando em público para mostrar o tamanho do sofrimento", diz Faria.
Mas a maioria se mutila só e esconde as feridas sob mangas ou munhequeiras.
"Não contam para os outros porque não querem que lhes tirem a sensação de bem-estar", diz Giusti. Uma hipótese para o efeito anestésico é que, nessas pessoas, a liberação de endorfina na hora do dor é maior, daí o alívio.
No Orkut, há 11 comunidades sobre automutilação, a maior tem 600 membros. O mais comentado dos tópicos é: "Como vocês fazem para esconder os cortes?".
Para Giusti, comunidades e vídeos podem ser um jeito de o jovem tratar da questão que não expõe a ninguém.
Faria vê risco de banalização do comportamento pela internet. "Não é normal se automutilar. É doença."
(matéria retirada do site:http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/881787-videos-de-automutilacao-que-circulam-na-web-podem-estimular-disturbio.shtml)

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