sexta-feira, 18 de março de 2011

Aristóteles – “Ética e Nicômaco” (trechos selecionados)


Livro I – item 1
[1094 a]- Toda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam a um bem qualquer; e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais excelentes do que as últimas.
            Mas como muitas são as ações, artes e ciências, muitas também são suas finalidades. O fim da medicina é a saúde, o da construção naval é um navio, o da estratégia militar é a vitória, e o da economia é a riqueza. Entretanto, onde tais artes se subordinam a uma única faculdade – como, por exemplo, a selaria e as outras artes relativas aos aprestos dos cavalos incluem-se na arte da equitação, e esta subordina-se, junto com todas as ações militares, na estratégia, e igualmente há algumas artes que se subordinam em terceiras -, em todas elas os fins das artes fundamentais devem ter precedência sobre os fins subordinados, pois, com efeito, estes últimos são procurados em função dos primeiros. Não faz diferença alguma que as finalidades das ações sejam as próprias atividades ou sejam algo distinto destas, como ocorre com as artes e as ciências que mencionamos.

Livro I – item 4
Retomando a nossa investigação, tendo em vista o fato de que todo conhecimento e todo trabalho visa a algum bem, procuremos determinar o que consideramos ser os objetivos da ciência política e o mais alto de todos os bens que se podem alcançar pela ação. Em palavras, quase todos estão de acordo, pois tanto o vulgo como os homens de cultura superior dizem que esse bem supremo é a felicidade e consideram que o bem viver e o bem agir equivalem a ser feliz; porém, divergem a respeito do que seja a felicidade, e o vulgo não sustenta a mesma opinião dos sábios. A maioria das pessoas pensa que se trata de alguma coisa simples e óbvia, como o prazer, a riqueza ou as honras, embora também discordem entre si; e muitas vezes o mesmo homem a identifica com diferentes coisas, dependendo das circunstâncias: com a saúde quando está doente, e com a riqueza quando é pobre. Cônscios, porém, da própria ignorância, admiram aqueles que propõem algum ideal grandioso e inacessível à sua compreensão. Ora, há quem pense que, à parte desses numerosos bens, existe um outro que é bom por si mesmo e que também é a causa da bondade de todos os outros. Seria talvez infrutífero examinar todas as opiniões que têm sido sustentadas a esse respeito; basta considerar as mais difundidas ou aquelas que parecem ser mais razoáveis.
Atendemos, porém, para a diferença entre os argumentos que procedem dos primeiros princípios e os que levam a eles. Com efeito, Platão já havia levantado esta questão, perguntando, como costumava fazer: “estamos no caminho que parte dos primeiros princípios ou no que se dirige a eles?” Aqui há uma diferença análoga àquela que há, em estádio, entre a reta que vai do ponto em que ficam os juízes até o ponto de retorno, em um sentido, e o caminho de volta, no outro sentido. De fato, embora devamos começar pelo que é conhecido, os objetos de conhecimento o são em duas acepções: alguns o são relativamente a nós, outros na acepção absoluta do termo. Por conseguinte, é de se presumir que devamos começar pelas coisas que são conhecidas a nós. Por essa razão, quem quiser ouvir com proveito as exposições sobre o que é nobre e justo, e em geral sobre a ciência política, é preciso ter sido educado nos bons hábitos. O fato é o princípio, ou o ponto de partida, e se ele for suficientemente claro para o ouvinte, não haverá necessidade de explicar por que é assim; e o homem que foi bem educado já conhece esses princípios ou pode vir a conhece-los com facilidade. Quanto ao que nem os conhece nem é capaz de conhece-los, que ouça as palavras de Hesíodo:
Ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas;
Bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos.
Mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia,
Esse é, em verdade, um homem inteiramente inútil. (Hesíodo, Trabalhos e Dias)

Biografia – Aristóteles (384-321 a.C.)

Aristóteles nasceu em Estagira e, aos 18 anos, ingressou na Academia de Platão em Atenas. Após a morte de Platão, tornou-se preceptor de Alexandre, filho de Filipe da Macedônia. Retornando a Atenas fundou a sua própria escola, o Liceu, e demonstrou sua divergência em relação aos platônicos que assumiram a Academia do antigo mestre. É um investigador, um homem de estudo que se dedica a diversos temas: é a busca de um saber amplo, global, que articula múltiplas visões na tentativa de estabelecer, de forma sistemática, uma compreensão entre a multiplicidade e a unidade das coisas e dos seres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Copyright 2009 ATPC Benedita Arruda. Powered by Blogger
Blogger Templates created by Deluxe Templates
Wordpress by Wpthemesfree